06/12/2009

Capoga/Muquem I

I
Seu Zé Cirilo, o vaqueiro de minha avó e sinhá Dôra a irmã dedicada, quase escrava de tão entregue, sua coluna já arqueada pelo esforço de erguer tachos de barro enormes e panelas de ferro expostas no giral de cipó que ficava lá fora perto da casa dos legumes que guardava cereais dentro de uma caixa de madeira imensa, tão alta que tínhamos que subir numa escada para ver lá dentro as sacas de açúcar, arroz, milho e outras coisas necessárias para família de 15 filhos, mais tantos netos e colonos dedicados no feitio da lida doméstica. Seu Zé Cirilo, o vaqueiro hermético de minha avó, vivia envolvido em seu gibão de couro, cheirado a mato, um cheiro quase religioso de quase extrema dedicação e amizade e fidelidade á uma matrona, rígida, severa... que acordava todos os dias ás 4 da matina para acender um fogão á lenha gigantesco comparado ao tamanho da menina que tudo ou quase tudo via.Via com olhos ora amedrontados e amendoados, ora cuidadosos e entregues. A menina quase que totalmente entregue á tudo que via e vivia, brincava com porquinhos enjeitados por suas mamães. Tinha que dá mamadeira com leite p porquinhos e bezerrinhos bebês com sua tia caçula, ela também caçula, por enquanto...certa tarde a mando de sua majestade avó, a menina foi á casa de seu tio S buscar um quilo de carne da cidade e como tudo, quase foi atropelada por uma carroça desgovernada. A reza forte de sua avó no alpendre alto da fazenda a salvou do perigo. Coitada da menina franzina, miúda, andrógina, esquecida, vivendo seus secretos medos de boneca desnuda sob o olhar condenador da visita do padre amigo da matrona q frequentava ás sextas a sala de visita para um café torrado na hora servido com doce de leite e queijo feitos na fazenda pela tia-madrinha que tivera paralisia infantil mas que costurava e bordava belos vestidos para menina no fim da colheita do arroz descascado com batidas de varas por trabalhadores no terreiro da casa, terreiro com árvores tipo embaúba, gigantes, que no escurecido esquecido da noite formavam sombras assustadoras as quais a menina assistia da varanda á luz de lampiões á gás e candeeiros com pavios de algodão sem semente torcido por ela para ás candeias com querosene,como dizia sua .ainda lembro do cheiro de querosene que empestava a casa com redes armadas em tornos de madeira e paredes grossas de taipa.

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