30/06/2012

Lado PA

Quando criança tenho na lembrança
Dias, tardes e noites de pura alegria
Brincava de roda, ciranda, onça e dona candinha

Quando chovia, no coqueiro subia
Na palha da macaubeira, os bueiros descia
Pegava sapinhos pululantes nas mãos e escondia

Pelas calçadas corria, em cada bica parava,
a água da chuva saboreava e bebia
Não adoecia, nem tristeza sentia

No sol escaldante andava de bicicleta ao meio-dia
Não tinha sequer uma noite sem passar  anel, mascar chiclete 
Emprestar rosas cheirosas dos jardins das casas vizinhas
Para enfeitar os altares de festas, anjos de bonequinhas e magia!

Vestido novo, missa, festa de igreja, almoço de domingo no sítio vovó, tudo era fantasia!
Bonecas de papel, tamancos de madeira trazidos da capital, presentes de minhas tias!
Grupo escolar, merenda, professora que de tanto carinho, mais fada parecia!
Presentes de barro, panelinhas, jarrinhas, sofá de madeira, mesinha, bonecas de pano que da feira todo sábado mamãe trazia!

Vamos passear de carro! para o Muquem, sítio de meu avô paterno no gipe verde de papai todo mundo ia!
No alpendre iluminado pela cantiga da lua (bença mãe lua, da boa ventura, cresce meus cabelos que bata na cintura!), aboios, histórias de assombração de meu tio vaqueiro, eu morrendo de medo, no colo do meu avô, Neco Tunico, no sofá de couro (lindo!), feito caçula, adormecia!
O cachorro Joli , malhado, orgulho de padim, era assim que meu irmão tratava meu avô, pois era seu padrinho,o então Joli, era cheio de mania!

Dali, direto pra rede com mosquiteiro e embaixo uma bacia de alumínio, onde o mijo caia a meninada amanhecia!
Cinco horas da manhã, no curral o gado mugia, leite no balde, passarada em festaria!

Minha avó, dona pedrosa, cabelos negros até a cintura, miúda, braba, cachimbava no pé do gigante  fogão á  lenha, eu menina mirradinha, cabelos cacheadinhos, pichainzinho, pé descalcinho, de pijama de flanelinha
pelas frestas da janela tudo assistia!
Era o bode que berrava, o peru que grugurava, o gato miava,  galo cocoricava, cavalo relinchava e Joli soberamente no comando latia!

Meu tio Chico, minha tia Maria e suas filhas Edna e Preta, meus tios gêmeos Olivo e Olimpo, Chicô, com sua irmã doida e nua e seu irmão manco sanfoneiro, tia Dita.. a queda.do pé de ciriguela, jumentinho selado e arreado em disparada pela caatinga... eu na garupa, minha infância á galopar!

Banho de cuia no improviso do chão de terra batida
Cabelo lavado com raspa de juá
E a tardizinha a mesa posta com cominho e pimenta do reino ardida
Na medieval sala de jantar!

Menina experimentadeira e ligeira que eu era, armava arapuca para os passarinhos
Corria pela ladeira, os pés batendo na bunda em disparada, com o coração quase  na boca!!
Baladeira no pescoço, corria para o rio perto do bananal acompanhar minhas primas que lavavam
roupa quarava e batia!
Elas cantavam toadas gritadas com vozes roucas num português ancestral e diziam; esbarra aí ,eu, esperava!
Cuma é? o qui tu dixe?e longe cuspia!

Capelinha no terreiro da frente, altar cheio de santinho, onde o padre vinha batizar uma ruma de netinho!
Vinham os caretas na semana santa pedir prenda e chicotear os corajosos na malhação do judas perto da
igrejinha!
Na noite de brincadeiras um cercado de arame com o boneco judas no meio, vestido no capricho
Cachos de bananas, coco, melancia, porco e  galinhas em volta dele, eram os prêmios para quem ali se atrevia !
Gargalhadas, noite estrelada, gritos da meninada, até meia-noite o céu festejava  no Muquem e a gente toda se divertia!

Domingo a noitinha hora de ir embora...eu não queria!
Mas no outro dia para o grupo escolar eu ia!
Sexta-feira chegava , agora era a vez de ir pro sítio Grãum de vovó Socorro Maria!

Um fim de semana Grãum, no outro Muquem
E eu nesse vai e vem... não tinha pra ninguém!
Hoje bate em meu peito a saudade que me mantem !

Um comentário:

  1. Bela!! Me fez lembrar da minha infância no sitio de meu avô. Ainda continuo indo lá, mas brincar como na infância brincava, é uma pena mas não brinco mais.

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